A origem do pantaneiro é produto da miscigenação entre as diversas sociedades indígenas que habitavam a região, os colonizadores e os escravizados negros africanos que chegaram após o século XVI. Entre os indígenas estavam os Guató, Guaicuru, Terena, Payaguás, Kayapós e Bororo, sendo que, atualmente, muitos deles são apenas remanescentes de uma história que não se deixou contar.
O boiadeiro é, em primeiro plano, pantaneiro. Sendo uma figura típica na região do Pantanal, conduzem grandes boiadas por centenas de quilômetros e viajam até meses, montados em burros ou cavalos, e penetrando inúmeras paisagens. Estas boiadas pertencem a fazendeiros criadores que necessitam transportá-las para fins comerciais, com objetivos como de executar o manejo entre fazendas durante as fases de cria, recria ou engorda do gado, ou também por motivos de compra e venda entre fazendas e frigoríficos.
Os boiadeiros possuem um diversificado sistema de símbolos significantes (linguagem, arte, mito, ritual) na expressão de uma forma única de contato com a natureza. Eles utilizam de mapas mentais transmitidos oralmente, deixando registros ao longo do caminha. Também utilizam lâminas para marcar referências, que podem também ser compostas por lixos deixados para trás, como caixas de cigarro ou roupa velha. Às vezes também podem ser compostas de desenhos esquemáticos ou pornografias. Todos estes elementos compõem um sistema de referências contido na paisagem, elementos que revelam o significado de lugar.
Em seu documentário “A Travessia”, Yanjun Zhang descreve pantaneiros como:
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Eles são muito sensíveis aos perigos do seu redor, percebendo-os através do cheiro e som. Perigos como a presença de cobras ou onças.
A vida do boiadeiro consiste inteiramente na condução da boaida. Eles acordam ao nascer do sol, despacham o acampamento, e retornam à condução, parando no meio para almoçar, continuando depois a marcha. Ao anoitecer, eles chamam a boiada, acendem fogueiras, e provocam uns aos outros, às vezes gerando brigas.
A vestimenta do boiadeiro consiste em calças de couro, camisa, cinto e chapéu de couro. Eles carregam consigo armas e munições, além de uma lâmina extraordinária de afiada. Por motivos de precaução com o inesperado, e também por amor. Boiadeiros passam as suas vidas inteiras sem se casar, contando somente com mulheres que encontram ao decorrer do caminho.
O boiadeiro tem o seu estilo de vida único, apreciando a natureza com suas vidas.
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Em 2004, o título da capa da revista Terra foi “Pantaneiro, um ser em extinção”. Pesquisadores do Grupo de Estudos de Agronegócios da UFMS afirmavam que “Não há dados disponíveis, mas as comitivas de boiadeiros estão diminuindo e, no futuro, deixarão de existir”.
A transumância de animais trata-se de uma atividade de importância histórica, econômica e ambiental, acompanhando as ocupações e colonizações humanas. Hoje, com a cada vez maior ampliação das redes rodoviárias, o conflito entre essa atividade tradicional com o transporte voltado para o capital tem visto um aumento também cada vez maior – algo que tem causado o desaparecimento gradual dessa tradição que vem de séculos -.
A ciência moderna ao mesmo tempo que impulsiona o avanço humano, muitas vezes acaba, por motivos econômicos, exclui a existência acerca da pluralidade do tradicional (do pensamento, do costume, e outros) por um imperativo do conhecimento de aceitação hegemônica. O pluralismo, neste sentido, não origina somente da sociedade, mas também necessita do impulsionamento governamental.
Em 2 de fevereiro de 2007, presidente Lula assina o Decreto Federal Nº 6040/2007. O pantaneiro tornou-se oficialmente uma população tradicional, pertencente ao ecossistema do Pantanal.